Campanhas ricas são poucas. Ocorrem nas capitais e maiores cidades do estado e são exclusivas dos principais partidos. Há também o caso do candidato que possui recursos pessoais que lhe permitem bancar uma campanha rica.
No Brasil, poucas centenas de campanhas têm condições, do ponto de vista financeiro, para poder bancar um programa completo ou “econômico” de pesquisas
No conjunto do país, porém, são algumas poucas centenas de campanhas que se qualificam como “ricas” ou “confortáveis”, do ponto de vista financeiro, para poder bancar um programa completo ou “econômico” de pesquisas. Na quase totalidade, dos mais que 6.000 municípios do país, os candidatos não têm acesso a estes dois tipos de programas de pesquisas.
O que fazer nestes casos?
1. Tente levantar recursos para fazer a pesquisa-diagnóstico
Há certos casos em que, se for feito um esforço extra para a captação de recursos, é possível fazer-se pelo menos uma pesquisa-diagnostico. Vale a pena tentar este esforço extra.
2. Lance mão dos recursos locais Talvez você consiga um apoiador seu com formação em pesquisa, um cientista político, sociólogo, que seja capaz de reunir uma equipe, treiná-la e assim encarregar-se de sua pesquisa. Nestes casos, você talvez tenha que pagar apenas o profissional que vai extrair a amostra, e que seu apoiador se não conhecer, terá meios de descobrir. Uma outra situação é aquela em que existe uma Universidade ou Faculdade, com curso de Ciências Sociais, numa cidade perto da sua. É possível que eles tenham uma equipe de pesquisa, ou um professor treinado em pesquisa, que poderá fazer uma pesquisa para você a preço muito mais barato daquele cobrado pelos institutos.
3. Quando nenhuma destas alternativas é viável
Na imensa maioria dos casos de eleições para o executivo municipal – cidades pequenas – nenhuma destas duas alternativas se revela viável.Nestas situações, o candidato terá que fazer sua campanha sem realizar pesquisas. Que fazer então?
Não esqueça nunca que o que se busca com a pesquisa é a informação confiável. Informação confiável, entretanto, não se limita apenas àquelas produzidas por pesquisas. Refere-se também a toda informação que circula na campanha, que é objeto de discussão nas reuniões, e que é julgada suficientemente importante para subsidiar decisões. Muitas vezes a campanha não dispõe de recursos e/ou tempo para realizar uma pesquisa antes de tomar uma decisão de grande importância para a candidatura. Isto não significa que se deve abandonar a busca pela informação confiável. Muito ao contrário. Nessas situações o esforço para confirmar as informações necessárias para subsidiar a decisão deve ser ainda maior.
Muitas vezes a campanha não dispõe de recursos e/ou tempo para realizar uma pesquisa antes de tomar uma decisão de grande importância para a candidatura
A pesquisa, profissionalmente executada oferece-lhe a informação mais confiável que você poderá obter. Se você não pode ter uma pesquisa, você deve procurar formas de obter a informação mais confiável que estiver a seu alcance. A busca da informação confiável, portanto, deve tornar-se um hábito e uma regra compartilhada por toda equipe- inclusive o candidato- e está ao alcance de qualquer campanha - pobre ou rica. Como proceder nestas situações?
• Adote uma postura de pesquisador, seja rigoroso e cauteloso com relação às informações que chegam até você. Adote critérios para aceitá-las como verdadeiras. Trata-se então, de adotar a postura de um “ceticismo operacional”. A menos que se trate de informação sobre um “fato” que, comprovadamente, ocorreu, busque confirmações. Mesmo tratando-se de fato ocorrido, é preciso conhecer as circunstâncias, antes de reagir a ele;
• Busque confirmações
Informações sobre adversários ou sobre eleitores, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis, exigem confirmação.
Informações confirmadas por pessoas independentes e qualificadas para julgá-las podem produzir a confiabilidade que você busca. Uma outra forma de confirmá-las envolve o uso da indução, como mecanismo lógico. A forma básica de induzir é: “ Se x, então y”.
Em outras palavras, se o indivíduo ou grupo de eleitores tem a opinião x sobre determinado assunto, então, logicamente, deverá ter a opinião y sobre outro assunto, que esteja fortemente relacionado com “x”. Por exemplo: se os eleitores de um determinado bairro estão muito revoltados, por causa das valas de escoamento de esgoto ao ar livre (Se x), quando perguntados sobre o que mais desejam para seu bairro, deverão responder saneamento básico (então y). Quanto mais confirmada for a informação, mais confiável ela será.
• Saiba identificar boatos
O boato possui uma forma de se apresentar que lhe é característica: ele aparece sempre sob a forma de uma notícia, sobre um fato importante, que recém aconteceu, está acontecendo, ou está por acontecer, cujas conseqüências são enormes, e que desperta alguma ansiedade em quem a recebe (este é o sentimento que faz com que o boato se difunda repidamente). Não esqueça nunca que o boato é notícia não confirmada . É, pois, no território da possibilidade, da plausibilidade que o boato nasce e se difunde. A campanha eleitoral é um período especialmente propício para o surgimento de boatos. Por isso é muito importante que você saiba identificar boatos, para diferenciá-los das notícias reais e para imunizar-se de seus efeitos. • Aplique o teste do “beneficiário”
Frente a informações não confirmadas ou de difícil confirmação, aplique o teste do beneficiário. Em política, fatos ou informações sobre fatos (ocorridos ou por ocorrer)que não se revelam como auto-explicáveis devem sempre ser analisados pela ótica dos seus resultados e não da intenção. Há uma pergunta básica - de origem latina - que deve sempre ser feita. A fórmula latina é “Cui prodest”, isto é “A quem beneficia”. Diante de informações não confirmadas, pergunte-se sempre: a quem elas beneficiam. Em mais de 90% destes casos a identificação do beneficiado vai esclarecer as razões do fato.
Mesmo com poucos recursos, o candidato tem que saber combinar confiabilidade e tempo
Não se perca na procura sempre inconclusiva sobre as intenções. A você interessa as conseqüências reais do ato, ou da informação, que podem beneficiá-lo ou beneficiar a outros. É com esta realidade que você deverá lidar, porque ela é objetiva, existe e produz efeitos. Muitas vezes, você pode ser beneficiado por ações de pessoas que não tinham esta intenção. Nestes casos, para você, as conseqüências reais são idênticas às que seriam produzidas, se as pessoas agissem na intenção de ajudá-lo.
• Não aceite opiniões quando existem dados
Eduque sua equipe para trabalhar com dados. Em muitas ocasiões trabalha-se com opiniões e palpites em matérias em relação às quais existem dados precisos disponíveis (por exemplo, dados do censo, pesquisas já publicadas), ou de fácil produção. Por preguiça ou desleixo, muitas vezes deixa-se de buscar os dados existentes, ou produzí-los, em troca de opiniões do tipo “aproximadamente...”, “eu acho que...”, “é mais ou menos....”. Não aceite nunca este tipo de informação imprecisa, produto da preguiça, quando existirem dados precisos e disponíveis sobre a matéria. Quando a informação existe e está disponível não há desculpa para não possuí-la.
• Adote procedimentos de controle sobre estas informações como, múltipla checagem; avaliação da sua coerência com outras informações confirmadas e relativas ao mesmo assunto; conversa com analistas e comentaristas políticos; consistência com resultados de outras pesquisas, (realizadas pela campanha ou por rádios, jornais, TV , instituições); e, sobretudo, a interpretação do seu significado e da sua lógica, em função do conhecimento que se possui sobre o assunto. Estes são alguns dos procedimentos que podem reduzir significativamente a margem de incerteza.
O candidato tem que saber combinar confiabilidade e tempo. De nada adianta buscar uma confiabilidade que demore tanto tempo para ser obtida que faça com que se perca o momento de usá-la. Há decisões que, por sua importância e premência de tempo, precisam ser tomadas com poucas informações confiáveis ou com informações contraditórias. O candidato, nestes casos, não deve hesitar. É melhor decidir com base em informações razoavelmente seguras, ou até precárias, para não perder o momento e as oportunidades.
Ele deve tomar as decisões necessárias, fazendo uso do seu melhor julgamento, e correndo os inevitáveis riscos. É aconselhável porém que prepare, por antecipação, uma alternativa de correção, para o caso de erro.
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