Em agosto de 1969, o presidente Costa e Silva, já mostrando sinais de comprometimento de seu estado de saúde, foi levado de Brasília para o Rio, onde viu o seu quadro agravar-se. E foi um domingo de muita tensão, diante da impossibilidade dele continuar desempenhando suas funções, que a decisão de considerá-lo impedido para governar foi tomada pela área militar. E a sua maior preocupação passou a ser a de evitar a posse do vice-presidente Pedro Aleixo, no qual não confiavam. Aleixo fora o único voto contrário à edição do Ato Institucional número 5, meses antes, e ficou visado por isso.
Pedro Aleixo coordenou a comissão de juristas que propunha uma nova Constituição sem o AI-5
A confirmação dessa posição logo ficou clara com a decisão de formar uma Junta Militar, pois havia desconfiança de que Pedro Aleixo não conviveria com o AI-5. Aos poucos tudo foi se esclarecendo e o colunista Carlos Castelo Branco, tempos depois, em sua coluna, comentou o fato, divulgando revelações do filho de Pedro Aleixo:
"O depoimento do Padre Aleixo sobre a disposição do seu pai, o Vice-Presidente Pedro Aleixo, de revogar o AI-5 se lhe fosse dado substituir ou suceder o Presidente Costa e Silva, completa a declaração do Senador Jarbas Passarinho a respeito do assunto e os depoimentos dos jornalistas Heráclito Salles e Carlos Chagas sobre o mesmo tema.
"O senador como íntimo do sistema, ministro de Estado que era naquela época e tendo acompanhado ao Rio em viagem sob custódia militar do falecido Pedro Aleixo, rumo ao Ministério da Marinha, informou que a razão real da negativa de posse ao vice-presidente por parte dos ministros militares, foi a suposição deles de que, se isso ocorresse, seria revogado o AI-5, a cuja edição se opusera na época."
"O Padre Aleixo confirma ter sido decisão prévia do seu pai abolir aquele ato, acrescentando que ele pensava ao mesmo tempo em convidar para ministro do Exército, o general Orlando Geisel, em cuja autoridade depositava todas suas esperanças."
"Tenho minhas dúvidas, diz Castelo, no entanto, se Pedro Aleixo realizaria seu intento nos primeiros dias ou se teria oportunidade de fazê-lo antes que tivesse seu poder consolidado e alterado a mentalidade vigente nos comandos militares."
Junta Militar composta pelo General Aurélio de Lira Tavares, pelo Almirante Augusto Rademaker e pelo Brigadeiro Márcio de Sousa e Melo assumiu o governo após a doença de Costa e Silva
"O general Jaime Portela em seu livro de memórias conta mais alguma coisa a respeito. Diz que o ministro da Marinha, Augusto Rademaker colocou o vice-presidente Pedro Aleixo a par da doença do Presidente e da decisão tomada diante do fato:
"O Alto Comando das Forças Armadas tinha decidido que não fosse feita a substituição, continuando o Presidente no cargo, e os Ministros Militares respondendo por ele, praticando os atos de governo em seu nome.
Pedro Aleixo discordou, declarando que havia uma Constituição em vigor, a qual deveria ser cumprida. Os ministros mostraram-lhe a inviabilidade de ser cumprida a norma constitucional de substituição por razões de segurança nacional. O vice-presidente mostrou-se irredutível em aceitar e insistiu que fosse cumprida a Constituição. Os ministros já esperavam e reagiram com mais elementos. Tiveram que lhe declarar que as Forças Armadas não o desejavam na chefia do Governo e no seu Comando Supremo, pois que, com elas havia se incompatibilizado, quando da edição do Ato Institucional número 5, pois não concordara com a promulgação daquele diploma, optando pela decretação de Estado de Sítio.
Pedro Aleixo em reunião com Tancredo Neves
"Pedro Aleixo continuou discordando. Foi-lhe dito também que um Ato Institucional estava pronto e seria dado conhecimento ao ministério, numa reunião convocada para a noite, estabelecendo medidas para que os Ministros Militares respondessem pelo Governo.
Temor por Minas
Havia mais problemas, diante de informações de que o governo mineiro e lideranças políticas daquele estado, entre as quais José Maria Alckmin e Magalhães Pinto, insistiam em que Pedro Aleixo fosse para Belo Horizonte lá tomando posse. As autoridades militares no Rio trataram de evitar sua viagem e, como desculpa para não ceder-lhe o avião para Minas, foi-lhe dito que ele estava com pane. Mas, além disso, tomaram medidas para evitar a sua saída para Minas, através de aeroporto comercial, mantendo-o sob vigilância total.
A operação militar também teve a seu favor o fato de que, nesse domingo, as atenções estavam voltadas para o Maracanã, onde o Brasil decidia com o Paraguai sua classificação para a Copa de 70...
A comunicação oficial, através de rede nacional, foi feita às primeiras horas da noite para surpresa geral do país.
Por Carlos Fehlberg
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