terça-feira, 29 de janeiro de 2008

PESQUISAS ELEITORAIS - O QUE DEVO FAZER?

Além do diagnóstico, as pesquisas podem ajudar a encontrar o foco da campanha
No caso de uma campanha com recursos suficientes para bancar um programa completo de pesquisas, o recomendável é a contratação dos serviços de um instituto de pesquisa reconhecido por sua qualificação, experiência e idoneidade. Mas, apesar disto, a campanha deve também ter alguém com bastante conhecimento de pesquisa (em geral, um cientista político) para produzir, sob medida, os questionários e interpretar seus resultados.
Campanhas com recursos financeiros suficientes podem contratar os serviços de um instituto de pesquisa
Nesta campanha "rica", além da pesquisa de diagnóstico, destinada a definir o posicionamento da candidatura e o seu foco, serão realizadas outras pesquisas - quantitativas e qualitativas (focus groups)- destinadas a checar a eficiência da sua publicidade (programas de TV e rádio, slogans, comerciais) permitir a segmentação do eleitorado, e aprofundar a temática abordada na pesquisa de diagnóstico.
A pesquisa política possui os instrumentos técnicos adequados para identificar as propostas aprovadas pelos segmentos decisivos do eleitorado, de cujo apoio depende a vitória. Isto proporciona à campanha o seu eixo estratégico, permitindo-lhe então utilizar, com a maior eficiência possível, os sempre limitados recursos que dispõe.
A moderna campanha eleitoral deve, então, desde que possa possuir um programa completo de pesquisas - quantitativas e qualitativas - correspondendo às suas diferentes fases. Na fase anterior à campanha ou no seu início, deve-se realizar a Pesquisa de Diagnóstico Político (benchmark poll) que funciona como o marco-zero da campanha, e que fornecerá as informações vitais para definir o posicionamento da candidatura, seu foco e sua estratégia.
Neste tipo de pesquisa, com um questionário expandido e uma amostra expressiva, busca-se conhecer as expectativas e prioridades do eleitor, os atributos positivos/negativos da imagem do candidato e de seus concorrentes, o grau de definição /indefinição das intenções de voto, e os dados necessarios para realizar a segmentação do eleitorado, visando identificar os segmentos decisivos de eleitores (target groups) dos quais depende a vitória.
Durante a campanha propriamente dita, deve-se realizar as Pesquisas de Tendência Política, com questionários menores, mas com amostras igualmente expressivas, (pelo menos uma, se possível duas ou três), destinadas a aprofundar as descobertas da Pesquisa de Diagnóstico Político, e cujos objetivos básicos são:
1 - permitir o "ajuste fino do foco" da candidatura;
2 - avaliar os resultados da campanha até o momento de sua realização
Na fase final da campanha (ultimo mês) é desejável que se conduza a Pesquisa de Tracking. Este levantamento tem periodicidade diária e possui as mesmas características metodológicas das pesquisas de diagnóstico e de tendências, iniciando na semana em que começam os programas eleitorais gratuitos no rádio e na TV. Por meio deste tipo de pesquisa, a avaliação da propaganda é feita praticamente em tempo real, além de permitir acompanhar, dia-a-dia, a curva de intenção de voto. Por sua curta periodicidade este instrumento é dotado de alta sensibilidade para:
Pesquisa de tracking ajuda a medir a evolução da intenção de voto e pode ser útil para encontrar o foco da campanha
medir as flutuações de curto prazo da opinião pública, sobretudo a evolução da intenção de voto, rejeição, firmeza da decisão, segunda intenção de voto;
avaliar o desempenho e os resultados das peças da publicidade da campanha junto ao eleitorado;
avaliar o impacto de fatos novos como programas eleitorais, debates, denúncias, acusações, revelações, permitindo ao candidato realizar em tempo as correções e ajustes estratégicos necessarios;
orientar a campanha para o esforço final dos últimos 10 dias, identificando onde deve concentrar suas ações neste período crítico e final.
A grande vantagem do tracking está no fato de que ele assegura ao candidato o acesso à opinião do eleitor imediatamente após a ocorrência de fatos que possam afetar a sua candidatura, imediatamente após a veiculação de seu programa eleitoral. Ou logo após o debate do qual participou.
É óbvio que, na maioria das situações, somente as campanhas dos principais partidos para Governo do estado, para o Senado e Câmara Federal, Prefeituras de cidades grandes e Presidência da República, terão condições financeiras para bancar um programa completo de pesquisas, como o delineado acima.
E quem não tem dinheiro para pagar uma pesquisa?
Campanhas ricas são poucas. Ocorrem nas capitais e maiores cidades do estado e são exclusivas dos principais partidos. Há também o caso do candidato que possui recursos pessoais que lhe permitem bancar uma campanha rica. No conjunto do país, porém, são algumas poucas centenas de campanhas que se qualificam como "ricas" ou "confortáveis". É necessário uma excelente preparação - do ponto de vista financeiro - para poder bancar um programa completo ou econômico de pesquisas.
Na quase totalidade das campanhas os candidatos não têm acesso a estes dois tipos de programas de pesquisas.
O que fazer nestes casos?
1. Tente levantar recursos para fazer a pesquisa-diagnóstico
Há certos casos em que, se for feito um esforço extra para a captação de recursos, é possível fazer-se pelo menos uma pesquisa-diagnóstico. Vale a pena tentar este esforço extra.
2. Lance mão dos recursos locais
Toda a equipe deve estar empenhada na busca da informação confiável
Talvez você consiga um apoiador com formação em pesquisa, um cientista político, um sociólogo, que seja capaz de reunir uma equipe, treiná-la e assim encarregar-se de sua pesquisa. Nestes casos, você talvez tenha que pagar apenas o profissional que vai extrair a amostra, e que seu apoiador cientista político, se não conhecer, terá meios de descobrir. Uma outra situação é aquela em que existe uma Universidade ou Faculdade, com curso de Ciências Sociais, numa cidade perto da sua. É possível que eles tenham uma equipe de pesquisa, ou um professor treinado em pesquisa, que poderá fazer uma pesquisa para você a preço muito mais barato daquele cobrado pelos institutos.
3. Quando nenhuma destas alternativas é viável
Na imensa maioria dos casos de eleições legislativas talvez nenhuma destas duas alternativas se revele viável. Nestas situações, o candidato terá que fazer sua campanha sem realizar pesquisas.
O que fazer então?
Não esqueça nunca que o que se busca com a pesquisa é a informação confiável. Informação confiável, entretanto, não se limita apenas àquelas produzidas por pesquisas.
Refere-se também a toda informação que circula na campanha, que é objeto de discussão nas reuniões, e que é julgada suficientemente importante para validar decisões. Muitas vezes a campanha não dispõe de recursos e/ou tempo para realizar uma pesquisa antes de tomar uma decisão de grande importância para a candidatura.
Isto não significa que se deve abandonar a busca pela informação confiável. Muito ao contrário. Nessas situações o esforço para confirmar as informações necessárias para subsidiar a decisão deve ser ainda maior.
A pesquisa, profissionalmente executada, oferece a informação mais confiável que você poderá obter. Se você não pode ter uma pesquisa, você deve procurar formas de obter a informação mais confiável que estiver a seu alcance. A busca da informação confiável, portanto, deve tornar-se um hábito e uma regra compartilhada por toda equipe - inclusive o candidato - e está ao alcance de qualquer campanha - pobre ou rica.
Como proceder nestas situações?
Adote uma postura de pesquisador, seja rigoroso e cauteloso com relação às informações que chegam até você. Adote critérios para aceitá-las como verdadeiras. Trata-se então, de adotar a postura de um ceticismo operacional. A menos que se trate de informação sobre um fato que, comprovadamente, ocorreu, busque confirmações. Aliás, mesmo tratando-se de fato ocorrido, é preciso conhecer as circunstâncias, antes de reagir a ele.
1) Busque confirmações
O boato é notícia não confirmada. É preciso identificá-los e diferenciá-los das notícias reais para imunizar-se de seus efeitos.
Informações sobre adversários ou sobre eleitores, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis, exigem confirmação. Informações confirmadas por pessoas independentes e qualificadas para julgá-las podem produzir a confiabilidade que você busca. Uma outra forma de confirmá-las envolve o uso da indução, como mecanismo lógico. A forma básica de induzir é: "Se x, então y". Em outras palavras, se o indivíduo ou grupo de eleitores têm a opinião x sobre determinado assunto, então, logicamente, deverá ter a opinião y sobre outro assunto, que esteja fortemente relacionado com "x". Por exemplo: se os eleitores de um determinado bairro estão muito revoltados, por causa das valas de escoamento de esgoto ao ar livre (Se x), quando perguntados sobre o que mais desejam para seu bairro, deverão responder saneamento básico (então y). Quanto mais confirmada for a informação, mais confiável ela será.
2) Saiba identificar boatos
O boato possui uma forma de se apresentar que lhe é característica: ele aparece sempre sob a forma de uma notícia, sobre um fato importante, que recém aconteceu, está acontecendo, ou está por acontecer, cujas conseqüências são enormes, e que desperta alguma ansiedade em quem a recebe (este é o sentimento que faz com que o boato se difunda rapidamente). Não esqueça nunca que o boato é notícia não confirmada. É, pois, no território da possibilidade, da plausibilidade que o boato nasce e se difunde. A campanha eleitoral é um período especialmente propício para o surgimento de boatos. Por isso é muito importante que você saiba identificar boatos, para diferenciá-los das notícias reais e para imunizar-se de seus efeitos.
3) Aplique o teste do "beneficiário"
Frente a informações não confirmadas ou de difícil confirmação, aplique o teste do beneficiário. Em política, fatos ou informações sobre fatos (ocorridos ou por ocorrer) que não se revelam como auto-explicáveis devem sempre ser analisados pela ótica dos seus resultados e não da intenção.
Há uma pergunta básica - de origem latina - que deve sempre ser feita. A fórmula latina é Cui prodest, isto é, "A quem beneficia". Diante de informações não confirmadas, pergunte-se sempre: a quem elas beneficiam. Em mais de 90% destes casos a identificação do beneficiado vai esclarecer as razões do fato.
Não se perca na procura sempre inconclusiva sobre as intenções. A você interessam as conseqüências reais do ato ou da informação, que podem beneficiá-lo ou beneficiar a outros. É com esta realidade que você deverá lidar, porque ela é objetiva, existe e produz efeitos.
Muitas vezes, você pode ser beneficiado por ações de pessoas que não tinham esta intenção. Nestes casos, para você, as conseqüências reais são idênticas às que seriam produzidas, se as pessoas agissem na intenção de ajudá-lo.
4) Não aceite opiniões quando existem dados
Opiniões e palpites não substituem uma informação. Sem dados concretos a dúvida e a incerteza podem dominar sua campanha
Eduque sua equipe para trabalhar com dados. Em muitas ocasiões trabalha-se com opiniões e palpites em matérias em relação às quais existem dados precisos disponíveis (por exemplo, dados do censo, pesquisas já publicadas), ou de fácil produção.
Por preguiça ou desleixo, muitas vezes deixa-se de buscar os dados existentes, ou produzi-los, em troca de opiniões do tipo "aproximadamente...", "eu acho que...", "é mais ou menos....". Não aceite nunca este tipo de informação inexata, produto da indolência, quando existirem dados precisos e disponíveis sobre a matéria. Quando a informação existe - e está disponível - não há desculpa para não obtê-la.
5) Adote procedimentos de controle
É preciso analisar estas informações em aspectos como, múltipla checagem; avaliação da sua coerência com outras informações confirmadas e relativas ao mesmo assunto; conversa com analistas e comentaristas políticos; consistência com resultados de outras pesquisas, (realizadas pela campanha ou por rádios, jornais, TV , instituições); e, sobretudo, a interpretação do seu significado e da sua lógica, em função do conhecimento que se possui sobre o assunto. Estes são alguns dos procedimentos que podem reduzir significativamente a margem de incerteza.
O candidato tem que saber combinar confiabilidade e tempo. De nada adianta buscar uma confiabilidade que demore tanto tempo para ser obtida que faça com que se perca o momento de usá-la.
Há decisões que, por sua importância e premência de tempo, precisam ser tomadas com poucas informações confiáveis ou com informações contraditórias. O candidato, nestes casos, não deve hesitar. É melhor decidir com base em informações razoavelmente seguras, ou até precárias, para não perder o momento e as oportunidades.
Ele terá que tomar essas decisões necessárias e impostergáveis, fazendo uso do seu melhor julgamento, e correndo os inevitáveis riscos. É aconselhável porém que prepare, por antecipação, uma alternativa de correção, para o caso de erro.

4 comentários:

  1. Olá Tulhão. Quero cumprimentar pelo brilhante texto sobre pesquisas eleitorais.Gostaria de obter maiores informações.
    Obrigado!
    Adilson Perciliano

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  2. Olá Tulhão. Quero cumprimentar pelo brilhante texto sobre pesquisas eleitorais.Gostaria de obter maiores informações.
    Obrigado!
    Adilson Perciliano

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  3. por favor mande seu endereço eletronico

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  4. Já estou com seu link no meu BLOG... Abraços!

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