Para a ciência política, estudar o comportamento político significa construir instrumentos que permitam compreender as razões que levam os indivíduos a participarem de uma eleição (irem às urnas), bem como os motivos pelos quais escolhem este ou aquele partido ou candidato.
A ciência política tenta descobrir quais são os motivos que levam os indivíduos a participarem de uma eleição/Foto: Elza Fiúza/ABr
No entanto, a construção de tais instrumentos analíticos é um processo de contínua transformação. Essa transformação ocorre por meio da soma de conhecimentos acumulados sobre determinados assuntos. Em outras palavras, ao se produzir novas explicações sobre o mesmo fenômeno, utiliza-se parte do conhecimento já produzido.
Nesse sentido, o chamado “Modelo de Michigan”, oriundo da Universidade de Michigan, foi o pontapé inicial de uma série de teorias que procuravam, e procuram interpretar o comportamento político dos eleitores.
O Modelo de Michigan
O modelo de Michigan foi elaborado por pesquisadores da Universidade de Michigan nos anos 1950, sob a liderança de Angus Campbell, tendo como obra mais expressiva, o livro The American Voter. A principal metodologia desta corrente era a utilização de surveys (pesquisas que utilizam questionários). A partir dos dados coletados por amostragens, os pesquisadores de Michigan procuraram extrair inferências capazes de predizer o comportamento geral dos eleitores, ou seja, construir instrumentos teóricos capazes de “antecipar” o voto do eleitor.
Grande parte das teorias produzidas por esses pesquisadores teve a influência da psicologia social. Segundo a metodologia do Modelo de Michigan, a orientação das escolhas políticas, assumidas pelos indivíduos, começa a se delinear a partir do ambiente social. Nesse sentido, a conclusão principal desta teoria é a de que, indivíduos em contextos sócio-culturais semelhantes tendem a fazer a mesma opção eleitoral, ou seja, votar de maneira igual.
Não obstante, antes de compreender as razões das escolhas eleitorais, o grande desafio explicativo para as escolas que interpretam o comportamento político, é saber o que leva um individuo a participar do processo eleitoral. Obviamente, em contextos institucionais nos quais o voto é obrigatório, como no Brasil, a participação eleitoral se justifica em função das sanções legais. O mesmo não ocorre nos Estados Unidos, onde o voto é facultativo.
As razões para participação eleitoral
Se o voto não é obrigatório, o que levaria um indivíduo a participar de uma eleição? Os pesquisadores de Michigan explicam a participação eleitoral a partir da crença individual no voto. Se um indivíduo acreditar que, com o seu voto, é capaz de influenciar o resultado da eleição, ele tenderá a comparecer às urnas.
Numa situação inversa, caso o indivíduo pense que seu voto é irrelevante, sua tendência é abster-se do ato de votar. A raiz do problema está exatamente no número de indivíduos que compartilham de uma ou de outra posição. Quanto maior for o número de indivíduos que acreditam ser dispensável sua participação no processo eleitoral, maior será o índice de abstenção, gerando, no limite, uma crise de legitimidade dos novos governantes, uma vez que, apesar do fato de o eleito ter obtido a maioria dos votos, grandes parcelas do eleitorado decidiram não comparecer as urnas. Dessa forma, a representatividade dos eleitos torna-se frágil.
Já quando a crença na eficácia do voto é mais enraizada na cultura política de determinado país, a participação eleitoral tende a ser elevada, e o número de abstenção torna-se um fenômeno apenas residual, com uma parcela muito pequena de eleitores que abrem mão do direito ao voto.
O problema das escolhas
Com relação ao tema das escolhas eleitorais, o comportamento político é analisado pelos teóricos de Michigan a partir da seguinte equação: C1=f(Ai, Aj), onde C1 significa um determinado comportamento político influenciado pela multiplicação dos fatores (f), Ai e Aj, ou seja, as escolhas dos indivíduos estão relacionadas à probabilidade da repetição de fatores sócio-ambientais. Isso significa que as opções eleitorais, segundo o Modelo de Michigan, estão relacionadas ao tipo de sociabilização dos indivíduos.
Para a escola de Michigan, as escolhas dos indivíduos estão relacionadas à probabilidade da repetição de fatores sócio-ambientais/Foto: Elza Fiúza/ABr
A construção de um sistema individual de opções políticas inicia na fase da adolescência. Nesse período, segundo o Modelo de Michigan, a convivência familiar, escolar, religiosa, etc., forma a personalidade do indivíduo, e determina suas escolhas como eleitor. Assim sendo, as escolhas dos eleitores poderiam ser previstas a partir do conhecimento de sua inserção social.
O resultado prático desta teoria, baseada no Modelo de Michigan, mostrou que a hipótese de que o tipo de sociabilização determina o comportamento político dos indivíduos era válida apenas para 15% do eleitorado norte-americano, ou seja, a maioria dos eleitores apresenta um comportamento errático. Esta constatação ataca o coração da teoria: se o comportamento futuro dos indivíduos é fruto do seu sistema de atitudes perante o mundo e, se essas atitudes não são coerentemente estruturadas, então não é possível prever nada.
Para resolver este dilema os teóricos de Michigan propõem dois caminhos: o estudo do grau de centralidade e do grau de motivação para a política. O primeiro aspecto diz respeito à centralidade da política na vida dos indivíduos, ou seja, a diferença entre o padrão de indivíduos com maior ou menor interesse pela política. O segundo aspecto diz respeito a fatores conjunturais que podem incidir sobre a motivação individual para o voto.
Indivíduos com maior interesse pela vida política nacional ou local tendem a ter um padrão de escolha política mais permanente (estruturado). Já indivíduos com menos interesse por questões políticas, seriam, segundo o Modelo Michigan, mais suscetíveis a impulsos momentâneos. Suas escolhas políticas dependeriam mais de fatores conjunturais do que fatores estruturais.
A partir desse aporte teórico produzido pelo Modelo Michigan, a interpelação do comportamento político foi ganhando novos componentes. Todavia, de uma forma ou de outra, as pesquisas produzidas pelos teóricos de Michigan estão na base desse tipo de estudo.
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