segunda-feira, 31 de março de 2008

MARTA NA FRENTE MAS GERALDO LEVA NO SEGUNDO TURNO

Marta ganha quatro pontos e divide liderança com Alckmin em todos os possíveis cenáriosAlckmin e Kassab oscilam dentro da margem de erroA primeira pesquisa de intenção de voto realizada pelo Datafolha após a definição de que a ex-prefeita e atual ministra do Turismo, Marta Suplicy, será a candidata do PT à prefeitura de São Paulo, contando com o apoio explícito do presidente Lula, mostra fortalecimento do nome da petista na disputa. O levantamento, realizado nos dias 25 e 26 de março, mostra que Marta divide a liderança com o ex-governador Geraldo Alckmin, do PSDB, em todos os cenários pesquisados, sendo que, no principal deles, ela ganhou quatro pontos percentuais. Na pesquisa anterior, realizada em fevereiro, Alckmin liderava sozinho em dois cenários e ocorria empate entre o peessedebista e a petista em dois. Marta liderava sozinha apenas quando o nome do tucano era retirado da lista de pré-candidatos. No primeiro cenário investigado, que considera a cada vez mais provável hipótese de que PSDB e DEM não repitam a parceria da eleição de 2002, Marta Suplicy ganhou quatro pontos percentuais, subindo de 25% para 29% das intenções de voto. Nesse cenário, Alckmin oscilou um ponto para baixo, de 29% para 28%. O prefeito Gilberto Kassab (DEM) oscilou um ponto para cima, de 12% para 13% das preferências. Paulo Maluf (PP) oscilou de 10% para 8% e Luiza Erundina (PSB) passou de 8% para 7% das intenções de voto. Paulinho (PDT) se manteve com 3%, Soninha (PPS) oscilou de 2% para 1% e Aldo Rebelo (PC do B) permanece com 1% das preferências. Ivan Valente (PSOL) e Zulaiê Cobra (PHS) foram citados, mas não atingem 1% das preferências, taxa que obtinham na pesquisa de fevereiro. Foram ouvidos 1089 moradores da cidade de São Paulo, a partir dos 16 anos de idade, e a margem de erro máxima, para o total da amostra, é de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Um segundo cenário, que considera Paulo Maluf fora da disputa, também permite comparação com a pesquisa anterior. Nessa hipótese, Geraldo Alckmin se manteve com 30% e Marta Suplicy oscilou de 28% para 29% das intenções de voto. Gilberto Kassab variou de 13% para 15% e Luiza Erundina continuou com 9%. Também oscilaram, dentro da margem de erro, Paulinho (de 4% para 3%), Soninha (de 2% para 1%) e Ivan Valente (tinha 1%, percentual que não chega a obter hoje). Aldo Rebelo e Zulaiê Cobra se mantém com 1%, cada, nesse cenário. Sem Luiza Erundina, mas com Paulo Maluf disputando, Marta atinge 30% e Alckmin obtém 29% das intenções de voto. Kassab tem 15% das preferências e Maluf fica com 9% nessa hipótese. Vêm a seguir Paulinho (3%), Soninha (2%), Aldo Rebelo, Zulaiê Cobra (1%, cada) e Ivan Valente (que não chega a 1% das menções). Um último cenário exclui os nomes de Erundina e Maluf. Nesse caso, Marta e Alckmin atingem 32%, cada, e Kassab chega a 17%. Completam o cenário Paulinho (4%), Soninha, Aldo Rebelo (2%, cada), Zulaiê Cobra (1%) e Ivan Valente (novamente, não atinge 1% das menções). O fortalecimento do nome de Marta é confirmado pelo resultado da intenção de voto espontânea, que se refere às menções feitas antes da apresentação, aos entrevistados, dos cartões circulares com os nomes dos pré-candidatos. Em novembro do ano passado, a petista era citada espontaneamente por 7% dos entrevistados. Essa taxa oscilou para 10% em fevereiro e, hoje, é cinco pontos maior, tendo chegado a 15%. Kassab, por sua vez, oscilou de 10% em novembro para 11% em fevereiro, marca que mantém hoje. Alckmin tinha 4%, oscilou para 6% e chega hoje a 8%, ou metade do percentual de menções espontâneas obtido por sua principal adversária. Entre os de maior renda, Marta e Kassab sobem, e Alckmin cai61% dos simpatizantes do PSDB têm intenção de votar em Alckmin; 18% preferem Kassab.
O segmento no qual se verificou a maior variação em relação ao levantamento de fevereiro foi aquele dos que têm renda familiar mensal acima de dez salários mínimos (que representa 11% da população). Nesse estrato, Marta Suplicy ganhou nove pontos percentuais, passando de 15% para 24%. Gilberto Kassab teve evolução idêntica à registrada pela petista. Geraldo Alckmin, por sua vez, perdeu 12 pontos percentuais nesse estrato, caindo de 40% para 28%. Assim, ocorre, hoje, um empate entre os três principais pré-candidatos à prefeitura no segmento de maior renda. No segmento dos que ganham entre dois e cinco salários mínimos, Marta ganhou sete pontos percentuais, passando de 25% para 32%, ficando agora cinco pontos à frente de Alckmin, que oscilou de 28% para 27% nesse estrato. A maior vantagem da petista sobre o tucano, no que se refere à estratificação por renda, se dá entre os que têm renda até cinco salários mínimos (32% a 27%). Alckmin fica dez pontos à frente de Marta (35% a 25%) entre os que se situam na faixa de renda que vai de cinco a dez salários mínimos. No que diz respeito à escolaridade, Marta ganhou oito pontos percentuais entre os que têm o ensino médio (subiu de 26% para 34%), segmento no qual Alckmin perdeu cinco pontos (passou de 32% para 27%). Entre os que têm escolaridade fundamental, a petista oscilou dois pontos para cima (de 26% para 28%) e o tucano variou um ponto para cima (de 25% para 26%), persistindo assim o empate entre os dois. Entre os que têm nível superior de escolaridade, os três principais pré-candidatos tiveram oscilações positivas. Nesse segmento, Alckmin, que vinha perdendo pontos (chegou a ter 43% em agosto do ano passado), lidera, com 34%. Kassab, com 22%, e Marta, com 19%, seguem na disputa pelo segundo lugar na preferência dos mais escolarizados. Se a discussão sobre candidatura própria ou preservação da aliança com o DEM vem dividindo os políticos do PSDB, os simpatizantes do partido ouvidos pelo Datafolha demonstram, em sua maioria, preferir um vôo solo: 61% dos que declaram o PSDB como partido de preferência têm intenção de votar em Geraldo Alckmin, ante 18% que preferem Gilberto Kassab (percentuais que se referem ao cenário principal da pesquisa). A pesquisa também mostra que, entre os que consideram o desempenho de Gilberto Kassab ótimo ou bom, ocorre empate entre ele (31%) e Geraldo Alckmin (29%). Já entre os moradores da cidade que aprovam o desempenho do presidente Lula, a ministra Marta Suplicy atinge 38% (nove pontos acima da média), ficando à frente de Alckmin (22%, ou seis pontos abaixo da média). Kassab fica com 14%, percentual dentro da média. Rejeição e simulações de segundo turno mostram estabilidade.
Exceção é aumento da vantagem de Marta sobre Kassab em hipotético segundo turnoMarta Suplicy ganhou pontos no que diz respeito à intenção de voto, mas seu nome continua enfrentando rejeição de parcela significativa da população. A taxa de rejeição à petista é o dobro da obtida por seu principal adversário, Geraldo Alckmin. O percentual dos que não votariam de jeito nenhum na petista oscilou um ponto para cima, de 28% em fevereiro para 29% hoje. A rejeição a Alckmin, que era de 14% em fevereiro, oscilou para 15% hoje.Gilberto Kassab tem um percentual de rejeição similar ao de Marta: 27% não votariam de jeito nenhum pela reeleição do atual prefeito (eram 26% em fevereiro). Paulo Maluf continua enfrentando a maior resistência entre os possíveis candidatos a prefeito. A taxa dos que não votariam de jeito nenhum nele, no primeiro turno da eleição para prefeito, oscilou de 52% em fevereiro para 51% hoje. A taxa dos que não votariam de forma alguma em Luiza Erundina oscilou de 21% para 23%. Aldo Rebelo e Paulinho obtém 12% de rejeição, cada. Não votariam de jeito nenhum em Zulaiê Cobra 11%, e Soninha e Ivan Valente são rejeitados por 10%, cada. A simulação de um segundo turno entre Marta Suplicy e Geraldo Alckmin continua mostrando vitória do tucano. Os resultados são praticamente idênticos aos registrados em fevereiro: votariam em Alckmin 53%, ante 41% que dariam seu voto a Marta. No levantamento anterior, o peessedebista obtinha 52% e a petista ficava com 40% das preferências. Também praticamente não houve mudança no que se refere a uma hipotética disputa entre Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab. Nesse caso, o peessedebista teria 59% (mesmo percentual que obtinha em fevereiro) e o atual prefeito ficaria com 27% (26% no levantamento anterior). A única simulação de segundo turno que registrou alterações acima da margem de erro foi a que considera a hipótese de enfrentamento entre Marta Suplicy e Gilberto Kassab. A vantagem da petista sobre o provável candidato à reeleição subiu de 11 para 16 pontos percentuais. Em fevereiro, ela venceria por 50% a 39%; hoje, a vitória seria por 53% a 37%. No caso de um segundo turno entre Geraldo Alckmin e Marta Suplicy, o tucano contaria, hoje, com o apoio da maioria dos que votariam em Gilberto Kassab (69%) e em Paulo Maluf (61%) no primeiro turno. Entre os que votariam em Luiza Erundina, por outro lado, 60% declaram que dariam seu voto à ministra do Turismo em um segundo turno contra Alckmin. Se a disputa ficasse entre Marta e Kassab, 52% dos que votariam em Alckmin no primeiro turno dariam seu voto ao prefeito do DEM. Se fossem Alckmin e Kassab a disputar, 59% dos potenciais eleitores de Marta optariam pelo tucano no segundo turno. Maioria acha que Serra deveria apoiar AlckminEntre simpatizantes do PSDB, defesa de apoio a ex-governador chega a 80%Levados a considerar a hipótese de que tanto Gilberto Kassab quanto Geraldo Alckmin concorram à Prefeitura de São Paulo na eleição deste ano, 60% dos entrevistados opinam que o governador José Serra deveria dar seu apoio a seu companheiro de partido. Para 25% ele deveria apoiar Kassab, que foi seu vice e o substituiu na Prefeitura quando o tucano deixou o cargo para concorrer ao governo estadual. Acham que Serra deveria apoiar os dois 3% e dizem que ele não deveria apoiar nenhum dos dois 9%. Entre os simpatizantes do PSDB a taxa dos que dizem que Serra deveria apoiar Alckmin chega a 80%. Indagados sobre como reagiriam caso soubessem que o seu candidato a prefeito, mesmo sendo eleito, tem planos para ficar dois anos na Prefeitura, e então deixar o cargo e concorrer à Presidência em 2010, 51% afirmam que mudariam seu voto; 44% votariam nele mesmo assim. Entre os que têm intenção de votar em Geraldo Alckmin, os resultados são o inverso do que se verifica entre o total de entrevistados: 52% votariam nele mesmo sabendo que o tucano teria planos de deixar a Prefeitura para concorrer à Presidência e 43% mudariam o voto caso soubessem dessa ambição. Entre os que pretendem votar em Marta ou em Kassab os resultados ficam dentro da média. Quando se considera a troca da prefeitura por uma candidatura ao governo do Estado, as opiniões se dividem: 48% votariam em um candidato que tivesse esse plano e 47% mudariam o voto. Nesse caso, 59% dos que têm intenção de votar em Alckmin e 53% dos que pretendem votar em Kassab votariam neles mesmo se soubessem que eles têm tal plano. Já entre os que têm intenção de votar em Marta Suplicy, 52% deixariam de votar nela caso tivessem conhecimento de suas pretensões ao governo do Estado. A maior parte dos moradores da cidade de São Paulo continua declarando indiferença tanto ao apoio do presidente Lula quanto ao do governador José Serra nas eleições deste ano. Porém, essa indiferença está ligeiramente menor do que era em fevereiro.No caso do presidente, 55% dizem que o apoio de Lula a um candidato a prefeito nas eleições deste ano seria indiferente, 23% afirmam que não votariam em um candidato apoiado por ele e 17% dizem que poderiam ser levados a escolher esse candidato. No levantamento anterior, 58% se diziam indiferentes, 24% não votariam em um candidato com o apoio presidencial e 15% poderiam ser levados a votar nele. No que se refere ao governador paulista, a taxa dos que se dizem indiferentes a seu apoio a um candidato a prefeito caiu cinco pontos em relação a fevereiro, tendo passado de 53% para 48%. Essa queda reflete a oscilação dos percentuais dos que dizem que o apoio de Serra faria com que não votassem no candidato (de 22% para 24%) e dos que afirmam que esse apoio poderia resultar em um motivo para votar nele (de 23% para 25%). Entre os que têm intenção de votar em Marta Suplicy, a taxa dos que dizem que poderiam ser levados a votar em um candidato apoiado pelo presidente Lula é de 25%, oito pontos acima da média. Entre os que pretendem votar em Geraldo Alckmin, 38% afirmam que o apoio de Serra poderia ser um motivo para votar em um candidato a prefeito (13 pontos acima da média); essa taxa é de 29% entre os que têm intenção de votar em Gilberto Kassab (quatro pontos acima da média). São Paulo, 28 de março de 2008.




terça-feira, 11 de março de 2008

Noticias

Aécio e Serra voltam a encontrar-se e negam qualquer problema
O governador de São Paulo, José Serra, considera ainda muito cedo discutir a realização de prévias para a escolha do candidato do PSDB à Presidência da República em 2010. "O que for decidido está bom. É coisa para se ver mais adiante. É muito cedo para se pensar em 2010. As pessoas especulam, mas é muito cedo". E observou que não é contra prévias.
Os governadores José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas Gerais)/Foto: Fábio Pozzebom/ABr
Em compensação o governador paulista, que se posicionou pela consulta interna, está muito ativo, admitindo as prévias um passo adiante do PSDB, "um partido sempre questionado pelas decisões que tomou de cúpula e até eu muitas vezes participando desse núcleo". E ele tem razão, pois em 2006, foi um pequeno grupo, formado pelo ex-presidente Fernando Henrique, o presidente do Partido, Tasso Jereissati e Aécio, basicamente que encaminhou a candidatura de Geraldo Alckmin ao Palácio do Planalto.
Naquele momento uma das razões invocadas era a de que José Serra era importante para manter o governo de São Paulo. Agora o entendimento está mudando, sobretudo por duas razões: Aécio é candidato e a derrota de 2006 mostrou o erro cometido, deixando de ouvir as bases. Mas sobre o governo de São Paulo, um argumento invocado à época, não é referido. Ou a candidatura Serra (à reeleição...) será considerada fundamental para manter São Paulo, a maior e histórica base tucana, em poder do Partido?
Conversações
No encontro entre os governadores de Minas Gerais e São Paulo na solenidade dos 80 anos do jornal "O Estado de Minas", ambos procuraram, mais uma vez, demonstrar que não existem divergências. Serra até mostrou um bom humor ao dizer que ele e Aécio fazem tabelinha, "nos entendemos sempre..."
Explicações
A Câmara Federal quer ouvir o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, e o embaixador da Espanha no Brasil, Ricardo Peidró, sobre a deportação de brasileiros em viagem à Europa. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia, vai consultar o ministro Celso Amorim, antes de decidir se convida o embaixador, atento a questões diplomáticas. É pensamento da Câmara também ouvir o testemunho de brasileiros que foram barrados em Madrid.
Recuo
O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, voltou atrás no mandado de segurança que impetrou no Supremo Tribunal Federal para obrigar o Palácio do Planalto a abrir as contas do gabinete pessoal do presidente da República com os cartões corporativos. E por uma razão óbvia: essas informações serão obtidas, agora, pela CPMI, afinal definida mediante acordo político no Congresso. Virgílio diz que com a CPMI, o Congresso passa a contar "com instrumento próprio e adequado para investigar o uso dos cartões". Mas garante que poderá retomar o pedido, no caso da base aliada do governo dificultar os trabalhos da CPMI.
Renan poupado
O PSOL não obteve êxito na sua tentativa junto ao STF para reabrir representação contra o senador Renan Calheiros. A representação foi arquivada em dezembro pelo presidente da Comissão de Ética do Senado, Leomar Quintanilha e parta o Supremo o caso se "encerra na competência" do Senado.
Ação
O DEM ajuizou no STF a Ação Direta de Inconstitucionalidade 4041, com pedido de medida cautelar, contra a Medida provisória que autorizou a abertura de crédito extraordinário de R$ 12,5 bilhões ao BNDES. Nela, o partido afirma que a MP não observou o descrito no artigo 62, parágrafo 1º, inciso I, alínea "d" da Constituição Federal. O dispositivo veda edição de medida provisória sobre matéria relativa a diretrizes orçamentárias e créditos adicionais, exceto em casos extraordinários.

Acreditar que o sucesso eleitoral dispensa planificação é cometer um erro que pode custar muito caro ao candidato

A mitologia da política, assim como a sua tradição, sugere que o sucesso eleitoral dispensa planificação. Mais ainda, que as qualidades necessárias ao sucesso – flexibilidade, oportunismo, iniciativa, experiência- não apenas dispensam como não se harmonizam com a elaboração de planos.

As campanhas eleitorais vitoriosas, mesmo para os cargos iniciais da carreira política, recorrem cada vez mais ao planejamento
Se esta é a lição da mitologia, a lição da realidade é que as campanhas eleitorais vitoriosas, mesmo para os cargos mais iniciais da carreira política, recorrem cada vez mais ao planejamento para definir sua estratégia e organizar suas atividades.
Campanhas eleitorais têm tudo para tornarem-se caóticas: tempo limitado, recursos insuficientes, pessoas tensas e cansadas, candidato ansioso e insatisfeito, forte envolvimento emocional, ocorrência freqüente de fatos novos e inesperados, etc.
A forma habitual de lidar com esta realidade dinâmica e nervosa costuma ser "vamos enfrentar os problemas e tomar as decisões na medida em que eles aparecerem". Nesta forma de pensar presume-se que o trabalho duro e a capacidade de resposta rápida serão suficientes. Não são.
Sem o mapa da viagem que o plano proporciona, a campanha tende a ser pautada pelos outros, pelos fatos novos, tornando-se reativa, dispersa, contraditória e ineficaz. Estão sempre alguns milhares de reais a menos e algumas semanas atrasadas em relação ao que se propõem! Somente o planejamento pode controlar esta tendência para o caos que ameaça qualquer campanha.
É certo, entretanto, que a tentativa de introduzir o planejamento vai despertar, no candidato e/ou em membros de sua equipe, reações contrárias e hostis. Estas reações tenderão a assumir uma ou mais das seguintes desculpas que buscam basicamente: preservar espaços já conquistados, proteger reputações, manter a liberdade de improvisação, evitar uma avaliação de desempenho e fugir do desafio de ter que aprender a fazer aquilo a que a pessoa se acostumou a fazer à sua maneira, no seu ritmo, e com seus prazos.
As desculpas mais usadas nestes casos serão as seguintes:
Argumento do tempo: É perda de tempo. Vai se gastar muito tempo em reuniões e escrevendo.
Argumento da teoria x prática: É cair na teoria (no sentido pejorativo do termo). "Na prática nós já sabemos o que precisa ser feito."
Argumento da experiência: "Nunca se fez plano assim e nunca precisamos. Nenhum plano vai ter o conhecimento da cidade x, região x, ou do bairro x, como fulano."
Argumento da rigidez: O plano vai tornar a campanha rígida e pesada. A eleição é muito dinâmica, a toda hora acontecem coisas não previstas. O plano vai inibir a agilidade, a iniciativa e a liberdade de ação, qualidades que são indispensáveis a uma campanha eleitoral.
Nenhum destes argumentos se sustenta logicamente. Tomados em conjunto, eles compõem uma caricatura, que está muito distante do tipo de planejamento que estamos propondo.
Ao contrário, o planejamento feito com competência ganha tempo, é todo voltado para a prática, tem critérios para discernir quando a experiência é útil e quando é superada. E incorpora necessariamente procedimentos para sua modificação, assegurando à campanha uma flexibilidade que não irá comprometer a continuidade do que está funcionando bem.
Fazer ou não um plano de campanha será a primeira e provavelmente a mais importante decisão que o candidato deverá tomar!

segunda-feira, 10 de março de 2008

Grupos de pressão Parte 1

Embora envolto em grande confusão conceitual, o termo grupo de pressão incorporou-se à linguagem da política brasileira. Qualquer organização ou movimento que se proponha a influenciar as decisões de governo, executivas ou legislativas, costuma ser denominado assim

A cultura política brasileira revela-se também ambígua em relação a tais grupos. O julgamento de valor sobre eles depende do grau de popularidade da causa que defendem - e não da sua função no sistema de poder. Se a motivação é popular são considerados legítimos. Se for impopular são vistos de maneira negativa.

Na realidade, os grupos de pressão devem ser analisados como estruturas que integram o sistema político. Não são institucionais - como as que compõem o Executivo, o Legislativo e o Judiciário - e sim informais, constituídas por setores organizados da sociedade. Contrariamente aos partidos políticos, os grupos de pressão não se propõem a conquistar o poder formal. Seu objetivo é influir nas decisões, seja para promover seus interesses, seja para evitar que decisões que os contrariem sejam aprovadas.



As células-mãe dos grupos de pressão foram os sindicatos de operários

Grupos de pressão situam-se no espaço localizado entre os indivíduos isoladamente considerados de um determinado segmento social e os órgãos de governo. Na terminologia da Ciência Política trata-se de uma estrutura de articulação de interesses, em contraste com os partidos políticos, que são estruturas de agregação de interesse. Grupos de pressão, portanto, são porções sociais organizadas, reunindo indivíduos que compartilham interesses e desenvolvem ações com a intenção de inspirar decisões de governo.

Origem e causas
Os grupos de pressão surgiram a partir da modernização social. Com o desenvolvimento econômico, a sociedade tradicional, de base predominantemente rural, foi profundamente transformada, dando origem à sociedade urbano-industrial, caracterizada pela enorme diferenciação interna, especialização e interdependência. A mudança decorrente traduz-se numa dramática substituição de escala em todos os indicadores demográficos e sociais: na população, na monetarização da economia, no sufrágio universal, no consumo, mercado, na produção, comunicação, urbanização, nos serviços, no transporte. Em suma, revela dimensões de uma sociedade de massa.



Índios circulam pelo Congresso, em Brasília: indivíduos que compartilham interesses e desenvolvem ações para inspirar decisões de governo

A auto-suficiência econômica, característica do localismo da sociedade tradicional, é substituída por uma complexa trama de relações interdependentes, desempenhadas de forma especializada por indivíduos treinados especificamente para suas funções. Essa multiplicação de segmentos sociais não mais pode ser representada pelas antigas formas de representação geográfica de interesses, cuja base passa a ser funcional, especializada e profissional, perdendo sua referência territorial e exigindo outra forma de representação. É exatamente para preencher esse vazio que os grupos de interesse e pressão foram criados.

Historicamente, os sindicatos operários do século 19, primeiro na Inglaterra e depois na Europa Continental, foram os primeiros grupos formados para pressionar o sistema político no que se referia à ampliação do sufrágio. Sua organização nada tinha de territorial. Os sindicatos, cuja primeira base foram as fábricas, expandiram-se para abranger todas as unidades de um mesmo tipo de industria. Seguiam, portanto, a lógica da organização funcional.

Com as mudanças no sistema capitalista, que conferiram ao Estado uma função econômica e legitimaram sua maior intervenção no mercado, aumentou enormemente o número de setores sociais econômicos e não-econômicos que constituiram associações para lutar por seus interesses e evitar medidas governamentais que os prejudicassem. Eles organizaram-se sob as mais variadas formas: sindicatos operários e patronais, cooperativas, associações profissionais, associações de veteranos de guerra, associações de empresários de um mesmo setor industrial, associações rurais, associações de entidades educacionais privadas, movimentos e grupos religiosos, movimentos reformistas - para citar apenas os de maior visibilidade. Cada conjunto pode transformar-se em um grupo de pressão - atuando sobre o executivo, legislativo, judiciário e também sobre a opinião pública - desde que sintam seus interesses ou valores ameaçados. Alguns, pela natureza continuada e permanente dos problemas que os podem afetar, profissionalizam-se a ponto de formar lobbies.
O fato a registrar é que os grupos de pressão surgiram como uma forma de representação alternativa à territorial, que não mais se compatibilizava com a natureza da nova sociedade urbano-industrial. Ocuparam um espaço intermediário entre o indivíduo e o Estado, paralelo ao dos partidos políticos - também localizados naquele vácuo - deles diferenciando-se por sua razão, que não é a conquista do poder, mas o acesso aos seus centros, a fim de obter decisões favoráveis a seus interesses ou evitar deliberações que os prejudiquem.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Alckmin diz ao PSDB que vai concorrer à prefeitura

Alckmin informou à direção do PSDB que sua decisão está tomada. Mais: é irreversível. Vai mesmo concorrer à prefeitura de São Paulo nas eleições municipais de outubro. Aguarda agora uma posição do partido quanto à melhor data para a oficialização da candidatura.

Há dois dias, em diálogo reservado que manteve com um grão-duque do tucanato, o senador Sérgio Guerra (PE), presidente do PSDB, resumiu assim a cena paulistana: “Agora, é fazer a campanha do Geraldo e lutar para ganhar a eleição.” Diante do fato consumado, também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que torcia o nariz para as pretensões de Alckmin, já se deu por vencido.

Em privado, FHC prometeu “arregaçar as mangas” por Alckmin. Se for sincera, a declaração representa uma reviravolta. Até duas semanas atrás, o presidente de honra do PSDB punha as mangas de fora por um outro projeto: a celebração de uma aliança tucano-democrata em torno do nome do prefeito Gilberto Kassab (DEM), candidato à reeleição.

FHC chegou mesmo a urdir uma mobilização da bancada tucana na Câmara de Vereadores da capital paulista em favor da composição com Kassab. Antes, dissera, em público, que Alckmin deveria se preservar para a disputa ao governo de São Paulo, em 2010. Assim, estaria aberto o caminho para a aliança municipal com o DEM, que pavimentaria a reedição da parceria ao redor da candidatura presidencial de José Serra.

O prazo final para que os partidos retirem suas candidaturas do armário é o mês de junho. Mas Alckmin deseja que seu nome seja levado à vitrine bem antes disso. Trabalha com a perspectiva de achegar-se ao meio-fio no final de março. Até lá, cuidará da costura das alianças. Um cerzido que já se encontra em estágio avançado.

Alckmin aponta suas agulhas em duas direções: o PMDB de Orestes Quércia e o PTB de Campos Machado. Ao primeiro, já ofereceu a posição de vice. E acenou com o apoio à candidatura de Quércia ao Senado, em 2010. Cobiçado também pelo PT de Marta Suplicy, Quércia simula a disposição de lançar candidato próprio e cozinha os assédios em banho-maria.

Com seus movimentos, Alckmin levou Serra às cordas. Até a cúpula do DEM cobre o governador paulista de críticas. Atribui-se a “teimosia” de Alckmin ao fato de Serra ter tratado o grupo do ex-presidenciável tucano a pão e água. Daí a ânsia de Alckmin em concorrer à prefeitura, um posto que lhe devolveria a voz e a visibilidade que lhe tomaram.

Mercê da incompatibilidade que o separa de Serra, o eventual triunfo de Alckmin jogará água no moinho presidencial de Aécio Neves. Não por acaso, o governador de Minas é um dos mais ferrenhos defensores do direito de Alckmin à vaga de candidato a prefeito. Enxerga no aliado uma cunha paulista para a disputa interna que trava com Serra.

De resto, arma-se em São Paulo um cenário que o PT festeja gostosamente. A despeito de a aliança com o tucanato ter escalado o telhado, a cúpula do DEM trata a re-candidatura de Kassab como um fato consumado. Argumenta-se que o prefeito não tem nada a perder. Ainda que não retorne à prefeitura, tonificaria o seu cacife pessoal para disputar, em 2010, o Palácio dos Bandeirantes ou uma vaga ao Senado.

A divisão de tucanos e ‘demos’ é, do ponto de vista do petismo, o cenário ideal. Os partidários da ministra Marta Suplicy (Turismo) argumentam que Alckmin e Kassab disputam o mesmo eleitorado. A refrega entre ambos abriria uma avenida na qual a candidatura de Marta desfilaria rumo ao topo das intenções de voto.

Na ultima sondagem feita pelo datafolha, divulgada em 16 de fevereiro, a distância que separava Marta de Alckmin era de exíguos quatro pontos percentuais. Ele amealhava então 29% dos votos. Ela, 25%. Kassab, o terceiro colocado, vem bem atrás, com 12%. A ser mantido esse cenário, Alckmin e Marta mediriam forças num segundo turno de resultado imprevisível.
Escrito por Josias de Souza às 03h13

quarta-feira, 5 de março de 2008

terça-feira, 4 de março de 2008

PSDB PRECISA REDESCOBRIR O POVO

A troca de gentilezas entre Aécio Neves e Milton Temer é parte do drama prolongado em que se movimenta o PSDB. Abrigo de tantos medalhões da política brasileira, o PSDB corre o risco de ir parar no desmanche por divergências entre seus caciques, seus índios e também entre seus economistas -- que não podem se encontrar durante um jantar para não azedar a comida. Principal referência do partido, respeitado por caciques e índios de todas tribos, Fernando Henrique Cardoso realizou um esforço de pacificação e liderança quando disse que o PSDB deveria apoiar Gilberto Kassab para prefeito de São Paulo em 2008, lançar Geraldo Alckmin para o governo do Estado e José Serra para a presidência em 2010. O resultado é que Alckmin está em campanha acelerada para disputar a prefeitura e Aécio se movimenta em torno de um “projeto para o país.” O que acontece com o PSDB? Minha tese é que o partido precisa redescobrir o povo. Quem sabe procurando os militantes, organizando uma primária no estilo americano. É uma idéia velhíssima, mas talvez seja útil, e que também poderia ter sua vantagem no PT e em outras legendas. Mas tenho uma opinião antiga sobre o PSDB. Para animar o debate, republico aqui um texto do meu blogue, com data de 14 de setembro de 2006. Faltavam poucas semanas para o primeiro turno da eleição presidencial e a vitória de Lula estava claríssima no horizonte. O título do texto era justamente “PSDB precisa redescobrir o povo”. O texto está abaixo: “ Há muito tempo que venho dizendo que o problema da campanha de Geraldo Alckmin não é marketing. É política. Minha visão é que ele não conseguiu mostrar o país que carrega no coração – e por essa razão não consegue atrair mais votos que o tradicional eleitorado tucano. Seu cesto de intenções de voto é só um pouco maior que o de José Serra em 2002, o que é um absurdo quando se considera o que ocorreu nos quatro anos do governo Lula e a fragilidade dos demais concorrentes de oposição. Acho que o PSDB precisa voltar ao povo. E essa é a prioridade para entender o que acontece agora e também quando se fala sobre 2010. O problema não é a disputa entre Aécio Neves e José Serra. Ou sobre o destino de Geraldo Alckmin, caso as urnas de 2006 confirmem o que está escrito nas pesquisas e Lula seja reeleito. Em 1994, quando fez o Plano Real e garantiu a estabilidade da moeda, Fernando Henrique Cardoso garantiu a própria eleição porque soube estar junto ao povo e foi eleito pela turma C, D e E. Esse é o pessoal que decide uma eleição direta e que hoje muitos observadores tucanos definem como mal-nutridos e desinformados. Em 1994 Lula estava com um pé no Planalto mas depois do Real foi obrigado a fazer o caminho de volta e esperar oito anos. A razão? Apesar do carisma popular nulo, FHC estava aonde o povo está – este é o lugar dos artistas, como disse Milton Nascimento, e também dos políticos. O PT precisou de oito anos para entender o valor da estabilidade, sem a qual teria tido muito mais dificuldades para eleger Lula em 2002 e sem a qual não teria conseguido governar a partir da posse. O PSDB enfrenta agora um problema semelhante, na área social. Não se deve esquecer o mensalão e sua escória, nem por um momento. Deve-se rejeitar o "não sabia de nada" e denunciar a vergonha produzida no Congresso. É preciso cobrar tudo de bom que poderia ter sido feito e não foi -- a começar por um crescimento econômico mais decente. Mas em política é preciso olhar para aquilo que o povo está olhando: comida barata, crédito acessível, ajuda aos mais necessitados, bolsa para entrar em faculdade privada. É difícil negar que o governo Lula deu uma resposta para problemas importantes para milhões de brasileiros. Pode ser insatisfatória, incompleta e até demagógica, como sustentam economistas tucanos. É claro que falta porta de saída para o Bolsa-Família, o que é grave. Mas é inegável que hoje a massa de pobres e excluídos ganhou espaço no Estado – e por isso se reconhece no presidente. Sem reconhecer isso, o PSDB estará condenado a comentar os acontecimentos. Pode falar em populismo, aparelhamento do Estado e levantar o fantasma do autoritarismo. Esta é a crítica que se espera da oposição a um governo do PT. Mas só com isso o PSDB não será ouvido pelo povo. Ficará de comentarista da vida política. Esse é ponto. FHC foi eleito em 1994 dizendo que o Brasil era um país injusto. Estava certo.” Vocês acham que, um ano e seis meses depois, esses argumentos tem valor?
enviada por Paulo Moreira Leite