

O político: leão e raposa
"Há dois métodos de luta. Um é pela lei, e o outro pela força. O primeiro é próprio dos homens. O segundo, dos animais. Entretanto, como o primeiro método é muitas vezes insuficiente, deve-se aprender a usar o segundo. Um príncipe, então, sendo obrigado a saber lutar como um animal, deve imitar a raposa e o leão, pois o leão não sabe proteger-se das armadilhas, e a raposa não consegue defender-se dos lobos. O príncipe, portanto, deve ser uma raposa para reconhecer as armadilhas e um leão para assustar os lobos." - Maquiavel, em O Príncipe.
Maquiavel, como já tivemos a oportunidade de alertar nesta coluna, é um teórico da "escola realista da política". Como tal, ele analisa a política como a luta pela conquista e manutenção do poder. Vivendo em pleno período renascentista, com a Itália dominada por governantes inescrupulosos, com a Igreja completamente corrompida, para ele a política é a luta permanente pelo poder, sem qualquer referencial ético ao qual esteja subordinada.
O realismo de Maquiavel assusta, choca e escandaliza, mas também surpreende por sua freqüente correspondência com a realidade
Sua obra prima, O Príncipe, é dedicada a Lorenzo de Médici, embora, historicamente, tenha sido leitura obrigatória de famosos governantes e líderes políticos, dentre os quais notabilizou-se Napoleão, por suas observações, escritas à margem do volume que manuseava.
O Príncipe é uma das obras mais editadas da história. Difícil você entrar numa livraria e não encontrar uma nova edição da obra. Rejeitado como um teórico "amoral" e "maldito", pela sua visão negativa da natureza humana, Maquiavel continua sendo reeditado e lido e relido por todas as gerações.
É inegável que há algo de permanentemente moderno numa obra que é continuamente reeditada, estudada na academia e se constitui em livro de cabeceira de políticos e governantes célebres. É igualmente inegável que, se há algo de permanentemente moderno na obra, é porque há algo de perene nela. O realismo de Maquiavel assusta, choca e escandaliza, mas também surpreende por sua freqüente correspondência com a realidade.
Não é este o local para aprofundar questões desta natureza. Entretanto, não há como se falar da sabedoria da política sem recorrer extensivamente a Maquiavel. Não se pode e nem se deve fazer uma leitura literal de Maquiavel.
Na sociedade para a qual escrevia, o uso da força significava literalmente matar, expropriar e torturar. Uma leitura moderna de Maquiavel, numa democracia, se satisfaz com a tradução daquele conceito para o sentido de "uso da força política". Neste sentido, um governante democrático pode aprender muito com Maquiavel sem tornar-se um tirano.
"Há dois métodos de luta. Um é pela lei, e o outro pela força. O primeiro é próprio dos homens. O segundo, dos animais. Entretanto, como o primeiro método é muitas vezes insuficiente, deve-se aprender a usar o segundo. Um príncipe, então, sendo obrigado a saber lutar como um animal, deve imitar a raposa e o leão, pois o leão não sabe proteger-se das armadilhas, e a raposa não consegue defender-se dos lobos. O príncipe, portanto, deve ser uma raposa para reconhecer as armadilhas e um leão para assustar os lobos." - Maquiavel, em O Príncipe.
Maquiavel, como já tivemos a oportunidade de alertar nesta coluna, é um teórico da "escola realista da política". Como tal, ele analisa a política como a luta pela conquista e manutenção do poder. Vivendo em pleno período renascentista, com a Itália dominada por governantes inescrupulosos, com a Igreja completamente corrompida, para ele a política é a luta permanente pelo poder, sem qualquer referencial ético ao qual esteja subordinada.
O realismo de Maquiavel assusta, choca e escandaliza, mas também surpreende por sua freqüente correspondência com a realidade
Sua obra prima, O Príncipe, é dedicada a Lorenzo de Médici, embora, historicamente, tenha sido leitura obrigatória de famosos governantes e líderes políticos, dentre os quais notabilizou-se Napoleão, por suas observações, escritas à margem do volume que manuseava.
O Príncipe é uma das obras mais editadas da história. Difícil você entrar numa livraria e não encontrar uma nova edição da obra. Rejeitado como um teórico "amoral" e "maldito", pela sua visão negativa da natureza humana, Maquiavel continua sendo reeditado e lido e relido por todas as gerações.
É inegável que há algo de permanentemente moderno numa obra que é continuamente reeditada, estudada na academia e se constitui em livro de cabeceira de políticos e governantes célebres. É igualmente inegável que, se há algo de permanentemente moderno na obra, é porque há algo de perene nela. O realismo de Maquiavel assusta, choca e escandaliza, mas também surpreende por sua freqüente correspondência com a realidade.
Não é este o local para aprofundar questões desta natureza. Entretanto, não há como se falar da sabedoria da política sem recorrer extensivamente a Maquiavel. Não se pode e nem se deve fazer uma leitura literal de Maquiavel.
Na sociedade para a qual escrevia, o uso da força significava literalmente matar, expropriar e torturar. Uma leitura moderna de Maquiavel, numa democracia, se satisfaz com a tradução daquele conceito para o sentido de "uso da força política". Neste sentido, um governante democrático pode aprender muito com Maquiavel sem tornar-se um tirano.
O político: leão e raposa (pág. 2)
Na citação que abre esse texto, Maquiavel aconselha o Príncipe a possuir a astúcia da raposa e a força do leão, porque, como ele mesmo alerta, a força da lei, não sendo suficiente, o governante deverá recorrer à força para sobreviver.
Maquiavel aconselha o Príncipe a possuir a astúcia da raposa e a força do leão
Dois são os principais perigos a que está sujeito um político: as armadilhas e o ataque. Para as primeiras ele deve ter a astúcia da raposa, e para os segundos a força do leão. Astúcia e força não são qualidades fáceis de conviver numa mesma personalidade. O entendimento comum é que o fraco, por ser fraco, recorre à astúcia para sobreviver. Inversamente, o forte tende a ser percebido como bruto, simplório e pouco inteligente.
Para Maquiavel, o líder deve aspirar combinar em si estas duas características. E Maquiavel não errou. Se observarmos as biografias dos grandes líderes notaremos que eles triunfaram quando logravam combiná-las e caíam quando descuidavam de uma ou outra.
Num contexto democrático, a advertência de Maquiavel não perde sua validade. O jogo político parlamentar, ou no interior de um governo, ou de um partido, é sobretudo um jogo de astúcia. Já o jogo político eleitoral, é, fundamentalmente, um jogo de força.
Mas haverá momentos em que o político hábil terá que fazer pesar a sua força política dentro do governo a que pertence, ou do partido ou parlamento que integra, e inversamente usar da astúcia na relação com seus adversários na disputa eleitoral.
A leitura "não literal" de Maquiavel compatibiliza-o com o jogo político democrático. Força, com seus conceitos correlatos (crueldade, armas, violência, fazer o mal, etc) de uso permanente na análise política de Maquiavel, é o conceito que menos se harmoniza com a política numa democracia.
Entretanto, se "traduzirmos" força por força política, isto é, o uso legítimo do poder, da influência, da popularidade, do prestígio, das relações, da organização, da pressão, em resumo, de todos os recursos políticos que um líder possui a seu alcance, grande parte das lições de Maquiavel harmonizam-se com a prática da democracia. É neste sentido então que a "força do leão" deve ser entendida no nosso contexto. Já a astúcia da raposa dispensa "tradução".
Francisco Ferraz O político: leão e raposa (pág. 2)
Na citação que abre esse texto, Maquiavel aconselha o Príncipe a possuir a astúcia da raposa e a força do leão, porque, como ele mesmo alerta, a força da lei, não sendo suficiente, o governante deverá recorrer à força para sobreviver.
Maquiavel aconselha o Príncipe a possuir a astúcia da raposa e a força do leão
Dois são os principais perigos a que está sujeito um político: as armadilhas e o ataque. Para as primeiras ele deve ter a astúcia da raposa, e para os segundos a força do leão. Astúcia e força não são qualidades fáceis de conviver numa mesma personalidade. O entendimento comum é que o fraco, por ser fraco, recorre à astúcia para sobreviver. Inversamente, o forte tende a ser percebido como bruto, simplório e pouco inteligente.
Para Maquiavel, o líder deve aspirar combinar em si estas duas características. E Maquiavel não errou. Se observarmos as biografias dos grandes líderes notaremos que eles triunfaram quando logravam combiná-las e caíam quando descuidavam de uma ou outra.
Num contexto democrático, a advertência de Maquiavel não perde sua validade. O jogo político parlamentar, ou no interior de um governo, ou de um partido, é sobretudo um jogo de astúcia. Já o jogo político eleitoral, é, fundamentalmente, um jogo de força.
Mas haverá momentos em que o político hábil terá que fazer pesar a sua força política dentro do governo a que pertence, ou do partido ou parlamento que integra, e inversamente usar da astúcia na relação com seus adversários na disputa eleitoral.
A leitura "não literal" de Maquiavel compatibiliza-o com o jogo político democrático. Força, com seus conceitos correlatos (crueldade, armas, violência, fazer o mal, etc) de uso permanente na análise política de Maquiavel, é o conceito que menos se harmoniza com a política numa democracia.
Entretanto, se "traduzirmos" força por força política, isto é, o uso legítimo do poder, da influência, da popularidade, do prestígio, das relações, da organização, da pressão, em resumo, de todos os recursos políticos que um líder possui a seu alcance, grande parte das lições de Maquiavel harmonizam-se com a prática da democracia. É neste sentido então que a "força do leão" deve ser entendida no nosso contexto. Já a astúcia da raposa dispensa "tradução".
Francisco Ferraz.
Na citação que abre esse texto, Maquiavel aconselha o Príncipe a possuir a astúcia da raposa e a força do leão, porque, como ele mesmo alerta, a força da lei, não sendo suficiente, o governante deverá recorrer à força para sobreviver.
Maquiavel aconselha o Príncipe a possuir a astúcia da raposa e a força do leão
Dois são os principais perigos a que está sujeito um político: as armadilhas e o ataque. Para as primeiras ele deve ter a astúcia da raposa, e para os segundos a força do leão. Astúcia e força não são qualidades fáceis de conviver numa mesma personalidade. O entendimento comum é que o fraco, por ser fraco, recorre à astúcia para sobreviver. Inversamente, o forte tende a ser percebido como bruto, simplório e pouco inteligente.
Para Maquiavel, o líder deve aspirar combinar em si estas duas características. E Maquiavel não errou. Se observarmos as biografias dos grandes líderes notaremos que eles triunfaram quando logravam combiná-las e caíam quando descuidavam de uma ou outra.
Num contexto democrático, a advertência de Maquiavel não perde sua validade. O jogo político parlamentar, ou no interior de um governo, ou de um partido, é sobretudo um jogo de astúcia. Já o jogo político eleitoral, é, fundamentalmente, um jogo de força.
Mas haverá momentos em que o político hábil terá que fazer pesar a sua força política dentro do governo a que pertence, ou do partido ou parlamento que integra, e inversamente usar da astúcia na relação com seus adversários na disputa eleitoral.
A leitura "não literal" de Maquiavel compatibiliza-o com o jogo político democrático. Força, com seus conceitos correlatos (crueldade, armas, violência, fazer o mal, etc) de uso permanente na análise política de Maquiavel, é o conceito que menos se harmoniza com a política numa democracia.
Entretanto, se "traduzirmos" força por força política, isto é, o uso legítimo do poder, da influência, da popularidade, do prestígio, das relações, da organização, da pressão, em resumo, de todos os recursos políticos que um líder possui a seu alcance, grande parte das lições de Maquiavel harmonizam-se com a prática da democracia. É neste sentido então que a "força do leão" deve ser entendida no nosso contexto. Já a astúcia da raposa dispensa "tradução".
Francisco Ferraz O político: leão e raposa (pág. 2)
Na citação que abre esse texto, Maquiavel aconselha o Príncipe a possuir a astúcia da raposa e a força do leão, porque, como ele mesmo alerta, a força da lei, não sendo suficiente, o governante deverá recorrer à força para sobreviver.
Maquiavel aconselha o Príncipe a possuir a astúcia da raposa e a força do leão
Dois são os principais perigos a que está sujeito um político: as armadilhas e o ataque. Para as primeiras ele deve ter a astúcia da raposa, e para os segundos a força do leão. Astúcia e força não são qualidades fáceis de conviver numa mesma personalidade. O entendimento comum é que o fraco, por ser fraco, recorre à astúcia para sobreviver. Inversamente, o forte tende a ser percebido como bruto, simplório e pouco inteligente.
Para Maquiavel, o líder deve aspirar combinar em si estas duas características. E Maquiavel não errou. Se observarmos as biografias dos grandes líderes notaremos que eles triunfaram quando logravam combiná-las e caíam quando descuidavam de uma ou outra.
Num contexto democrático, a advertência de Maquiavel não perde sua validade. O jogo político parlamentar, ou no interior de um governo, ou de um partido, é sobretudo um jogo de astúcia. Já o jogo político eleitoral, é, fundamentalmente, um jogo de força.
Mas haverá momentos em que o político hábil terá que fazer pesar a sua força política dentro do governo a que pertence, ou do partido ou parlamento que integra, e inversamente usar da astúcia na relação com seus adversários na disputa eleitoral.
A leitura "não literal" de Maquiavel compatibiliza-o com o jogo político democrático. Força, com seus conceitos correlatos (crueldade, armas, violência, fazer o mal, etc) de uso permanente na análise política de Maquiavel, é o conceito que menos se harmoniza com a política numa democracia.
Entretanto, se "traduzirmos" força por força política, isto é, o uso legítimo do poder, da influência, da popularidade, do prestígio, das relações, da organização, da pressão, em resumo, de todos os recursos políticos que um líder possui a seu alcance, grande parte das lições de Maquiavel harmonizam-se com a prática da democracia. É neste sentido então que a "força do leão" deve ser entendida no nosso contexto. Já a astúcia da raposa dispensa "tradução".
Francisco Ferraz.
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