O erro do assessor: aceitar "missões impossíveis"
O erro é implacável: alcança o sábio, o experiente, o ambicioso, o santo e o pecador. Atinge, ainda, o detentor do mandato e seus assessores. Mas uma das maneiras de driblá-lo é evitar assumir tarefas cuja execução ultrapasse os limites das possibilidades
Há erros que permanecem na esfera privada do indivíduo e há aqueles que são visíveis a todos - as falhas políticas pertencem a esta última categoria. Por isso, suas conseqüências são, muitas vezes, destruidoras. Manifestando-se em público, podem ser exploradas pelos adversários e pela mídia, comprometem a imagem e lançam dúvidas sobre a competência, firmeza e prudência do político que as cometeu.
Uma das maneiras de driblar o erro é evitar assumir tarefas cuja execução ultrapasse os limites das possibilidades
Em alguns casos há chance de recuperação. Noutros, tal perspectiva é remota, quando não, impossível. Essa é a razão pela qual se costuma dizer que "na política, vence quem erra menos".
Mesmo os líderes mais importantes, experientes e poderosos incorrem em equívocos que, embora pareçam pequenos, crescem por conta do prestígio envolvido, podendo adquirir proporções e efeitos desastrosos. Não obstante suas sabedoria, autodisciplina e seu conhecimento, esses políticos são derrotados por sentimentos como a vaidade, a ambição, a arrogância, o ódio, a paixão, a cobiça e outros de natureza similar, que atingem qualquer mortal.
Ocorre que o político, sobretudo o governante, não é qualquer mortal: constitui uma autoridade pública e, como tal, seus erros resultam numa dimensão muito maior do que os das pessoas comuns.
Aqueles que revertem nas maiores conseqüências costumam derivar das situações de conflito, quando o julgamento é comprometido pelas emoções e as decisões são tomadas rapidamente, num contexto de informações insuficientes, incertezas e riscos inafastáveis.
Mais recentemente, com a inclusão universal do assessor como membro permanente da equipe política, cujas funções são delegadas pelo chefe, surgiu um novo tipo de erro: o do próprio colaborador, que possui características diferentes daquele praticado diretamente pelo político. Embora seja de responsabilidade do assessor, é invariavelmente percebido como um equívoco do chefe.
Mais ainda: o público desconfia e até descrê de sua imputação ao assessor. Parece-lhe um ato de fuga de responsabilidade e de covardia por parte do líder. Erros menores são facilmente atribuídos aos subordinados, sem maiores conseqüências. Os graves, entretanto, não obedecem a tal dinâmica, ainda que tenham sido efetivamente praticados por assessores.
O erro do assessor: aceitar "missões impossíveis" (pág. 2)
Como regra, os políticos têm muita dificuldade em assumir as falhas que perpetram. Imagine-se o quanto mais lhes é penoso reconhecer como seu um erro que praticou induzido por um assessor... São, pois, equívocos que comprometem e afetam profundamente a relação de confiança que é a base da atividade de assessoria. O auxiliar deve sempre estar precavido, considerando que à tiracolo do erro vêm a perda de poder e influência; a reavaliação da delegação de seus poderes; a dúvida constante - nem sempre verbalizada - sobre suas opiniões, dados e informações; a difusão da informação sobre a falha - que, pelo menos no ambiente de trabalho, inevitavelmente vazará, fragilizando sua imagem profissional.
Jamais esqueça o princípio militar: "Quem dá a missão, dá os meios"
Por vezes, é o próprio chefe quem induz seu assessor ao erro, como se percebe em alguns exemplos mais comuns:
Problemas mal definidos geram, inevitavelmente, respostas imprecisas e até incorretas.
Prazos incompatíveis com a complexidade do tema podem forçar o assessor a sacrificar a qualidade do trabalho para cumpri-los.
Manipulação de conclusões. Por vezes, o trabalho entregue possui conclusões condicionadas, provisórias, parciais, probabilísticas e tendenciais, que o chefe, avidamente, transforma em verdades absolutas nos seus pronunciamentos.
Como se defender?
O grande argumento de defesa é oferecido no momento em que a tarefa é atribuída. Você não pode ceder à tentação de facilitar a vida de seu chefe. Ele poderá tentar passar-lhe uma missão imprecisa ou apressadamente definida, exigindo resultados imediatos. Isto é o que ele quer. Mas o que você quer? Você vai desejar determinar com toda precisão a tarefa e os meios dos quais vai dispor para realizá-la (jamais esqueça o princípio militar: "Quem dá a missão, dá os meios"). Você não pode aceitar uma delegação importante realizada de maneira breve e superficial. Antes de assumi-la, talvez seja necessário ganhar um tempo extra para familiarizar-se ao assunto e discutí-lo preliminarmente com seu chefe.
A seguir, você vai exigir - com o argumento da importância da tarefa - um tempo suficiente, mas evidentemente razoável, para elaborar o trabalho. Nem a lentidão de uma atividade acadêmica, nem a pressa incompatível com sua complexidade. Lembre que, se não aproveitar esse momento para conseguir as condições necessárias à satisfatória execução da tarefa, de nada adiantarão as queixas tardias. A hora é aquela. Se necessário, apoiando-se na confiança e na lealdade que existem na relação de vocês, recuse-se a fazer o trabalho nos termos propostos. Seu chefe vai-se irritar, vai reclamar. Mas internamente irá reconhecer e valorizar seu senso de responsabilidade.
Com tais cuidados, você estará preservando a si e a seu chefe. Se alguém tiver que errar ao utilizar o material produzido, que seja ele e não você. E que isso fique evidente entre vocês. Francisco Ferraz